sábado, 5 de novembro de 2011

Política e a tal visibilidade

"A política ocupa-se do que se vê e do que se pode dizer sobre o que é visto, de quem tem competência para ver e qualidade para dizer, das propriedades do espaço e dos possíveis tempos"  (Jacques Rancière, A partilha do sensível)

"Ei Sarney, vai tomar no cu" no Rock in Rio. Um triste samba-enredo para São Luís, feito pela Beija-Flor de Nilópolis. Esses dois episódios oscilantes entre música e política apareceram e reverberaram, cada um do seu modo.  A vantagem de esperar é ver o que segue em associações.


α

A música veio com o comentário do vocalista da banda Capital Inicial, Dinho Ouro Preto:  
“Todos são iguais, a regra básica é: nunca confie num político. Essa aqui é para as oligarquias que parecem ainda governar o Brasil, que conseguem deixar os grandes jornais censurados (…) Essa aqui é para o congresso brasileiro, essa aqui é em especial para o José Sarney". A trilha era "Que país é este", da "legião" "urbana". 

Mas certamente não foi apenas essa frase que impulsionou as mais de cem mil pessoas ali presentes. Não vi ao vivo, nem de lá, nem do sofá, mas o youtube é o suficiente.  Impossível saber de onde veio, a frase saiu durante o solo da banda e se fez audível.




[Qual seu tipo de revolução?]

 ζ


Congresso, Sarney, Maranhão, São Luís, agora em ritmo de samba. 8 milhões de patrocínio dado pelo governo de Roseana Sarney, através da sua Secretaria de "cultura", para a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis. A escola que é conhecida por ser uma grande campeã vai defender o enredo com o tema "São Luís, poema encantado do Maranhão", um verdadeiro samba do crioulo doido.

Certamente quem é da cidade nunca ouviu ninguém falar  "Meu São Luís". O afeto é tão falso que nem acertou o pronome; mas era de se esperar depois de versos tão desconexos, distantes de uma lembrança qualquer da ilha que não fosse apenas imagens-palavras-clichês amontoados.

Tem magia em cada palmeira que brota em seu chão
O homem nativo da terra
Resiste em bravura
A dor da invasão
Do mar vêm três coroas
Irmão seu olhar mareja
No balanço da maré
A maldade não tem fé sangrando os mares
Mensageiro da dor
Liberdade roubou dos meus lugares
Rompendo grilhões, em busca da paz
Na força dos meus ancestrais

Na Casa Nagô a luz de Xangô axé
Mina Jêje em ritual de fé
Chegou de Daomé, chegou de Abeokutá
Toda magia do Vodun e do Orixá

Ê rainha o bumba-meu-boi vem de lá
Eu quero ver o Cazumbá, sem a serpente acordar
Hoje a minha lágrima transborda todo mar
Fonte que a saudade não secou
Ó Ana assombração na carruagem
Os casarões são a imagem
Da história que o tempo guardou
No rádio o reggae do bom
Marrom é o tom da canção
Na terra da encantaria a arte do gênio João

Meu São Luís do Maranhão
Poema Encantado de Amor
Onde canta o sabiá
Hoje canta a Beija-Flor






Ninguém avisou que a serpente já acordou há muito tempo?

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Mapa com fotos


 Centro Histórico de São Luís, recortado em uma possibilidade do Google Maps e com o mecanismo de fotos georreferenciadas.

6 fotos para os 399 anos


Ruínas em um álbum no site Folha.  link



Parecem um déjà vu. Há algo de cotidiano nessas imagens de um percurso certamente bem curto no centro histórico de São Luís. A calçada estreita e quebrada, os tapumes, o lodo nas paredes e as plantas nos prédios, como aquele quase em frente à câmara municipal.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

08 de setembro de 2011, os 399 anos


Imagens, fantasmas, uma cidade e sua imagem. O aniversário que se aproxima (ainda não é este!) traz com ele uma crise de identidade coletiva, sendo a cidade esse organismo de mil olhos, bocas e passos correndo pelas ruas, veias, rugas. As nossas (assim o rosto da cidade tem o nosso como uma célula) estão bem a mostra, esgarçadas em um tempo abandonado. 
Mas São Luís é bem encantadora e nos faz lamentar pelo o que foi (já foi?) ou não é, o que pode ser, o que será, enfim, qualquer tempo verbal para um local onde mesmo o tempo histórico é difícil de definir, se é que precisamos de categorias. Hoje é aniversário da cidade e existe um blues no canto da sala, o que também é uma ilusão, pois o que prevalece é o clima de feriado estendido (Independência, Aniversário da Cidade, enforca a sexta, sábado e domingo).

Faz tempo que procuro as imagens desta cidade como um mosaico trêmulo e agora vejo tantas delas surgirem, padronizadas ou não. "Parabéns, São Luís!", uma "homenagem" de Edison Lobão, foi talvez a mais caricata. Traz uma mensagem de louvor ao patrimônio sob a imagem de uma outra cidade. A foto de pouca definição divide com a face do senador e sua postura monstruosa o constrangimento diante do cartaz.

Entre homenagem e revolta, a ilha continua parada no assobio mítico da tal cobra, o falso oroboros. É noite de feriado e há uma tensão que corre os caminhos vazios, só com olhos de gatos ou outras chamas. Parece ser uma imagem que vemos de Alcântara a noite, um silêncio que escutamos do outro lado do Boqueirão. Ou algum zumbido de festa, suor, festa.